Sistema Eletrônico de Administração de Conferências, 1º SIMPÓSIO CATARINENSE DE PECUÁRIA DE LEITE A BASE DE PASTO

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CASO DE FEBRE CATARRAL MALIGNA EM BOVINO LEITEIRO NO OESTE CATARINENSE EM 2023
Simone Silveira, Francieli A. Molossi, Cláudia Balzan, Maristela D. Maba, Leticia F. Baumbach, Maysa B. Chitolina, Cláudio W. Canal, Giovana Camillo

Última alteração: 2023-10-19

Resumo


Contribuição para a sociedade:

O presente estudo relata um caso de febre catarral maligna (FCM) ocorrida em um bovino em uma propriedade leiteira do oeste catarinense em 2023. A FCM foi causada pelo hespesvírus ovino tipo 2 (OvHV-2), um vírus que infecta ovinos sem causar sintomatologia clínica, entretanto que é fatal em bovinos quando transmitido de ovinos infectados. Portanto, esse resumo relata um caso de FCM, uma doença que muitas vezes é subdiagnosticada, e ressalta a importância dos rebanhos ovinos e bovinos serem mantidos separados e sem nenhum contato a fim evitar a transmissão de patógenos entre essas duas espécies animais.

 

Palavras-chave: Herpesvírus ovino, ovinos, doença infecciosa, diagnóstico laboratorial.

 

Descrição do caso:

O caso aconteceu em uma propriedade localizada em Xanxerê, SC, com 800 vacas em lactação, em sistema intensivo, alimentação a base de silagem e ração. Um bovino, fêmea, 4 anos de idade da raça Holandesa iniciou manifestação de secreção muco-fibrinosa, com áreas necróticas frequentemente recobertas por fibrina, multifocais a coalescentes na mucosa nasal, espelho nasal e gengivas, mucosa labial e vulva. Ainda, observou-se opacidade de córnea bilateral, opistótono, nistagmo, decúbito lateral com movimentos de pedalagem evoluindo para coma e morte (Figura 1). O curso clínico durou cerca de 5 dias. A vaca foi submetida a avaliação post mortem e fragmentos dos órgãos foram coletados em formalina 10%, processados rotineiramente para avaliação histopatológica, corados com a técnica de hematoxilina e eosina e avaliados em microscópio óptico. Amostras de suabe nasal, fragmentos de pulmão e sistema nervoso central foram submetidas a extração de DNA, seguida de reações de PCR.  As amostras de suabe nasal, pulmão e SNC foram testadas por reações de PCR para detecção do hespesvírus bovino tipo 1 (BoHV-1) e tipo 5 (BoHV-5) (ESTEVES et al., 2008). Para detecção de hespesvírus ovino tipo 2 (OvHV-2) foram utilizadas as amostras de suabe nasal e SNC (BAXTER et al, 1993). Para detecção de patógenos respiratórios, os suabes nasais também foram testados por PCR para identificação de Influenza D, parainfluenza bovina tipo 3 (PI-3, atualmente denominado respirovirus bovino 3), vírus respiratório sincicial bovino (BRSV, atualmente denominado orthopneumovírus bovino), pestivírus (BVDV) (GAETA et al., 2011; VILCEK et al., 1994; WEBER et al., 2014).

 

Resultados:

Os principais achados macroscópicos foram mucosas conjuntivas congestas, áreas necróticas com deposição de fibrina na mucosa nasal, espelho nasal, gengivas, mucosa labial e vulva, e opacidade de córnea. Os achados microscópicos consistiram de infiltrado inflamatório de macrófagos e linfócitos perivasculares no neurópilo e meninges com degeneração fibrinoide da parede de vasos sanguíneos, no encéfalo e rete mirabile, de maneira multifocal, moderada a acentuada. Nos rins também notou-se degeneração fibrinoide da parede de artérias de maneira multifocal e moderada. O animal testou positivo para (OvHV-2) e negativo para os demais patógenos testados por PCR. A identificação viral foi confirmada por sequenciamento de DNA tipo Sanger.

 

Figura 1.  Animal apresentando opistótono, descarga nasal, opacidade de córnea e secreção muco-fibrinosa na mucosa labial e vulva.

 

A sequência do isolado apresentou uma alta similaridade (>99%) com outras sequências de isolados de OvHV-2 brasileiros detectados em ovinos no PR e em bovinos no MT (figura 2).  O OvHV-2 é o principal herpesvírus causador da febre catarral maligna (FCM), uma doença fatal que acomete além de ovinos, bovinos e outros ruminantes. A doença tem uma baixa prevalência, mas é observada em todo mundo, principalmente em propriedades onde ovinos e bovinos são mantidos juntos ou próximos, permitindo algum tipo de contato entre eles (RUSSEL, 2009). Por mais que a doença seja fatal em bovinos, em ovinos, o hospedeiro natural do vírus, não é observado nenhum sinal clínico. Desta forma, a FCM não impacta a ovinocultura, no entanto os ovinos se infectados, atuam como reservatórios, podendo transmitir o vírus para os bovinos. Portanto, os ovinos apresentam um papel epidemiológico relevante. Na propriedade onde ocorreu o caso de FCM há um rebanho ovino que é mantido próximo ao rebanho bovino. À vista disso é provável que esse rebanho ovino tenha sido a fonte de infecção.

 

Conclusão: um caso de febre catarral maligna (FCM) foi diagnosticado em uma vaca de quatro anos de idade. O animal apresentou sinais respiratórios e sinais neurológicos característicos da doença e o curso clínico durou menos de cinco dias, levando o animal à morte. A FCM é uma doença rara, porém precisa ser lembrada principalmente em propriedades que possuem rebanhos bovinos e ovinos que são mantidos em contato próximo. A doença tem um curso clínico curto, não tem tratamento específico e é fatal.

Figura 2 - Árvore filogenética - sequência parcial do gene do tegumento do OvHV-2. A amostra SC93/23b foi identificada no caso de FCM ocorrida em bovino no oeste catarinense em 2023. Nome do isolado - país - hospedeiro - ano.

 

 


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