Sistema Eletrônico de Administração de Conferências, 1º SIMPÓSIO CATARINENSE DE PECUÁRIA DE LEITE A BASE DE PASTO

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EFEITO DA CCS NA INTEGRIDADE FÍSICA DO LEITE DE VACAS A PASTO
Andre Thaller Neto, Beatriz Danieli, Ana Luiza Bachmann Schogor

Última alteração: 2023-10-16

Resumo


Contribuição para a sociedade: O entendimento dos fatores responsáveis pelo aumento da Contagem de Células Somáticas (CCS) do leite e o seu efeito na integridade física são importantes para orientar o produtor do Oeste de Santa Catarina e evitar a rejeição do leite diante das especificações da Instrução Normativa vigente. Identificaremos os limitantes em melhorar a CCS e se ela prejudica a integridade física do leite de propriedades comerciais a pasto no verão. Houve maior instabilidade do leite ao teste do álcool no verão e a suplementação de vacas a pasto melhorou a produção de leite, mas não atenuou a integridade física do leite. Além disso, a paridade elevada deve ser considerada no descarte em função da CCS e conteúdo de cloretos do leite elevados.

 

Palavras-chave: conteúdo de cloretos, estresse por calor, suplementação.

 

Introdução: Capacitar os ordenhadores e implantar sistemas de gratificação estimula o esforço dos produtores rurais em melhorar a qualidade do leite comercializado. Reinemann (2019) indica que a ordenha eficaz segue cronologicamente algumas etapas, com finalidade de fornecer ambiente limpo, de baixo estresse, com uma rotina operacional consistente e eliminação de agentes causadores de mastite.

O aumento da CCS prejudica a integridade física do leite. Há indícios de que haja menor estabilidade do leite ao teste do álcool (CHAVEZ et al. 2004), aumento do teor de cloretos (GARGOURI et al. 2013) e baixa acidez titulável (ARRUDA JUNIOR 2018). Nestas condições, além de prejudicar a gratificação, ele pode ser penalizado ou ter o leite descartado por não se adequar às especificações da Instrução Normativa 76 (2018).

As propriedades do Oeste Catarinense fazem parte de uma importante bacia leiteira do Brasil.  Esta pesquisa foi vinculada à uma Cooperativa que instruia os produtores rurais com as recomendações de Reinemann (2019). Buscamos averiguar se existem diferenças entre as características de rebanho, se elas favorecem o aumento de CCS e a pior integridade física do leite no verão.

Material e métodos: O estudo foi conduzido em uma cooperativa do Oeste Catarinense. No verão de 2021 e no inverno de 2022 visitamos 60 propriedades comerciais do sistema de produção a pasto. A escolha dependeu da média de CCS de tanque dos dois meses antes da previsão de visita. Em cada estação climática selecionamos 30 propriedades de alta e 30 de baixa CCS, totalizando 120 propriedades.

Amostramos o leite do tanque de expansão, oriundo de duas ordenhas e homogeneizado por 15 minutos. Coletamos uma amostra com bronopol para a determinação de gordura, proteína, lactose, nitrogênio ureico (NUL) e crioscopia por espectrometria por radiação infravermelha, bem como a CCS por citometria de fluxo, outra amostra com azidiol para a Contagem Padrão em Placas (CPP) (citometria de fluxo) e a última sem conservante para as análises físicas. Os frascos com conservantes foram encaminhados ao Laboratório da Associação Paranaense de Criadores Brasileiros da Raça Holandesa, Curitiba, PR.

A amostra sem conservante foi mantida abaixo de 5ºC para as análises físicas no laboratório da Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC Oeste. Determinamos a estabilidade ao teste do álcool com as concentrações entre 68 e 88%, e intervalos de 2%. Em Placas de Petri, homogeneizamos 2 ml de leite e de álcool até a formação de coágulo, em que a estabilidade foi considerada à última graduação antes de formar coágulo. A acidez titulável (AT) em ºDornic foi analisada com um acidímetro e a determinação quantitativa de cloretos foi baseada no método de Mohr (GARGOURI et al. 2013).

Durante a ordenha, nas vacas lactantes determinamos a profundidade do úbere, medindo a distância entre a base do úbere e o jarrete, a sujidade de perna e de úbere (SCHREINER e RUEGG 2003). Após o desacoplamento da ordenhadeira avaliamos a condição da extremidade do teto (MEIN et al 2001). Os dados foram avaliados por da técnica de análise multivariada análise fatorial utilizando-se o procedimento FACTOR do pacote estatístico SAS®.

 

Resultados e discussões: Na análise fatorial dos dados (Tabela 1) os seis fatores explicaram 69,08% da variância total. O F1, indicou menor estabilidade do leite ao teste do álcool no verão, quando deficiências nutricionais e o estresse por calor predispõem à instabilidade (VOGES et al. 2018).

No F2, a maior concentração de solutos no leite (lactose e proteína) foi relacionado à menor crioscopia e maior acidez do leite. O F3 evidenciou que a menor produção de leite e maior percentual de sólidos (proteína e gordura) é encontrado em rebanhos com mais vacas Jersey. No F4, o maior fornecimento de concentrado às vacas lactantes foi proporcional à produção de leite. No fator 5, as vacas com maior sujidade de perna também tinham úberes mais sujos, e ambas as características foram frequentes nos rebanhos maiores.

O F6 demonstrou que a elevada paridade é a principal variável relacionada à alta CCS e o elevado teor de cloretos do leite, indicando a importância do descarte de vacas mais velhas nas propriedades a pasto. É possível manter os animais doentes junto dos demais, desde que o processo os mantenha ao final da linha de ordenha (REINEMANN 2019). Além disso, a proximidade entre a base do úbere e o jarrete (profundidade de úbere) evidenciou a pior conformação de úbere em vacas de paridade elevada e alta CCS. Úberes profundos predispõem a novos casos de mastite, assim como o surgimento de infecções crônicas. Ao se tornar mais próximo ao solo facilita a entrada de patógenos e esta condição piora com o avanço da idade (CARDOZO et al. 2015).

 

Tabela 1. Cargas fatoriais, comunalidades e percentual de variância referentes às características de rebanho, conformação da glândula mamária, produção e composição do leite de tanque de propriedades leiteiras a pasto.

Variável

Fator

Comuna-lidade

F1

F2

F3

F4

F5

F6

Estação climática¹

-0,88581

-0,00115

-0,10094

0,07124

-0,03350

0,02076

80,28

Grup. genético2

0,22537

0,12584

-0,79952

0,11007

-0,04199

0,00284

71,14

Vaca lactante (und.)

-0,07783

-0,14957

0,17698

0,34627

0,54818

0,13486

50,50

Concentrado (Kg)

0,14031

-0,21237

-0,19367

0,78824

0,07865

-0,08854

68,18

Profund úbere (cm)

0,37250

-0,23698

-0,16335

-0,33577

-0,06026

-0,48653

69,42

Hiperqueratose grave3

0,72756

-0,11831

0,10672

0,52028

0,02997

0,10974

71,71

Sujidade de perna4

0,32379

-0,01370

-0,04008

-0,06640

0,78569

-0,02163

79,22

Sujidade de úbere5

0,06174

0,09347

0,05366

-0,08004

0,83341

0,01685

71,13

Álcool

0,84440

0,06958

-0,11565

0,14409

0,06713

0,07935

79,13

Acidez titulável (ºD)

0,20187

0,67569

-0,07522

-0,15431

0,19520

-0,18573

59,22

Índice crioscópico

0,03123

-0,86174

-0,19056

0,05069

0,14529

-0,07834

81,69

Cloretos (%)

0,23273

0,10173

-0,16113

-0,28259

-0,48019

0,50033

54,47

CCS (log/ml)

0,03863

-0,05991

-0,05863

-0,25759

0,16159

0,74040

64,71

CPP (log/ml)

-0,14222

-0,07343

-0,20525

-0,69192

0,25343

0,33575

62,57

Produção de leite (kg vaca−1 dia−1)

0,14912

0,27688

-0,45696

0,59133

0,05086

0,08941

73,34

Gordura (%)

0,15758

0,16646

0,88169

-0,04129

0,05347

-0,06768

81,13

Proteina (%)

0,17409

0,52480

0,63719

-0,00095

0,09682

0,10153

83,71

Lactose (%)

-0,17146

0,80445

-0,04941

0,11708

-0,01680

-0,25652

77,49

Paridade

0,06985

-0,22229

0,05243

0,03849

-0,06846

0,67073

50,72

Variância explicada

18,52%

15,24

13,44

9,25

7,05

5,60

 

¹Inverno (1) ou verão (2), 2 Pontuação determinada pela média de animais com cada raça 3 = Holandês; 1 = Jersey; 2 = cruzada, 3 Frequência de 3+ 4, 4 Pontuação de 1 a 4: 1 - limpo a 4 - muito sujo, 5 Pontuação de 1 a 4: 1 - limpo a 4 - muito sujo

Conclusão: A instabilidade do leite ao teste do álcool eleva no verão. A maior suplementação de concentrado foi eficiente em melhorar a produção de leite, porém sem efeito sobre a integridade física do leite. Além disso, a CCS tornou-se um agravante em vacas de paridade elevada, especialmente por favorecer o aumento do conteúdo de cloretos do leite.


Palavras-chave


conteúdo de cloretos, estresse por calor, suplementação

Referências


ARRUDA JUNIOR, L.C. Variáveis relacionadas a não conformidades em qualidade do leite: baixa acidez titulável e baixo teor de extrato seco desengordurado. Tese. 2018.

 

BRASIL, Instrução Normativa n, 76, de 26 de novembro de 2018, Regulamentos Técnicos que fixam a identidade e as características de qualidade que devem apresentar o leite cru refrigerado, o leite pasteurizado e o leite pasteurizado tipo A, Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, seção 1, ed, 230, pg, 9, 30 nov, 2018.

 

CARDOZO, L.L.; THALER NETO, A.; SOUZA, G.N.; PICININ, L.C.A.; FELIPUS, N.C.; RECHE, N.L.M.; SCHMIDT, F.A.; WERNCKE, D.; SIMON, E. E. Risk factors for the occurrence of new and chronic cases of subclinical mastitis in dairy herds in southern Brazil. Journal of Dairy Science, v. 98, n.11, p.7675–7685, 2015.

 

CHAVEZ, M.S.; NEGRI, L.M.; TAVERNA, M.A.; CUATRÍN, A. Bovine milk composition parameters affecting the ethanol stability. Journal of Dairy Research, v.71, n.2, p.201–206, 2004.

 

REINEMANN, D. J. Handbook of Farm, Dairy and Food Machinery Engineering. Milking Machines and Milking Parlors. 3 ed. Disponível em: https://www.sciencedirect.com/book/9780128148037/handbook-of-farm-dairy-and-food-machinery-engineering. Acesso em: 28 set. 2023.

 

GARGOURI, A.; HAMED, H.; EL FEKI, A. Analysis of raw milk quality at reception and during cold storage: combined effects of somatic cell counts and psychrotrophic bacteria on lipolysis, Journal of Food Science, v.78, p.1405–1411, 2013.

 

MEIN, G.A.; NEIJENHUIS, F.; MORGAN, W.F.; REINEMANN, D.J.; HILLERTON, J.E.; BAINES, J.R.; OHNSTAD, I.; RASMUSSEN, M.D.; TIMMS, L.; BRITT, J.S.; FARNSWORTH, R.; COOK, N.; HEMLING, T.; TEAT. Evaluation of bovine teat condition in commercial dairy herds: 1. non-infectious factors. Proceedings of the 2nd International Symposium on Mastitis and Milk Quality, NMC/AABP, Vancouver , 5., 2001, [...]. 2001. p. 351–374.

 

SCHREINER, D, A.; RUEGG, P.L. Relationship between udder and leg hygiene scores and subclinical mastitis, Journal of Dairy Science, v.86, n.11, p.3460–3465, 2003.

 

VOGES, J.G.; FELIPUS, N.C.; DE OLIVEIRA CANABARRO, L.; KNOB, D.A.; DA SILVA KAZAMA, D.C.; NETO, A.T. Relationship between farm structure and animal feed in unstable non-acid milk occurrence in Planalto Norte of Santa Catarina. Ciência Animal Brasileira, n.19, 2018.


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