Sistema Eletrônico de Administração de Conferências, 1º SIMPÓSIO CATARINENSE DE PECUÁRIA DE LEITE A BASE DE PASTO

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EFEITO DA ADIÇÃO DE ÓLEO DE LINHAÇA SOBRE O PERFIL DE ACIDOS GRAXOS DO LEITE DE VACAS A PASTO
Andre Thaller Neto, Gadriéli Cristina Gheno, Roberto Kappes, Ione Maria Pereira Haygert Velho, Ana Carolina Hadlich Xavier, Luiz Eduardo Lobo e Silva, Roger Wagner, João Pedro Velho

Última alteração: 2023-10-19

Resumo


Contribuição para a sociedade: A suplementação lipídica em vacas leiteiras tem o potencial de aumentar a densidade energética da dieta e transferir para o leite compostos bioativos benéficos a saúde humana. O objetivo foi avaliar o efeito da suplementação com óleo de linhaça (LO) sobre o perfil de ácidos graxos (AG) do leite de vacas a pasto na primavera e no verão. As vacas foram separadas em dois tratamentos: controle (TC) e suplementação com óleo de linhaça (TL). O grupo TL foi suplementado com 400 g/dia com óleo de linhaça. Houve um aumento de C18:3 n-3, e demais AGs de cadeia longa e uma diminuição nos AG da síntese de novo (C10:0, C12:0, C14:0 - C16:0) e C16:1, C17:0, C17:1, C20:3 n6 e C20:4 n6. A suplementação de vacas a pasto com OL modula o perfil de AG do leite, melhorando as características nutricionais com potenciais benefícios à saúde humana.

Palavras-chave: Síntese de novo, suplementação lipídica, ômega-3.

Introdução: A suplementação lipídica é uma estratégia nutricional crescente nas propriedades leiteiras. Em detrimento a sua alta densidade energética, há um aumento da produção de leite sem incremento calórico durante os processos de digestão, muito recomendado nas estações quentes (PALMQUIST e JENKINS 2017). Além disso, alguns óleos, em especial o óleo de linhaça (OL) tem o potencial de transferir compostos bioativos como ômega-3 e outros ácidos graxos (AG) para o leite (LOOR et al. 2005). Estudos demonstraram vários benefícios do AG ômega-3 e CLAs C18:2 c9, t11, and C18:2 t10, c12 para a saúde humana, como efeitos anticarcinogênicos e cardioprotetores, e redução da hipertensão e artrite (BAUMAN et al. 2008; PETIT. 2010). O objetivo foi avaliar o efeito da suplementação com óleo de linhaça sobre o perfil de ácidos graxos do leite de vacas a pasto na primavera e no verão.

 

Material e métodos: O estudo foi conduzido no setor de bovinocultura de leite da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC–CAV). O estudo foi separado em dois experimentos: I – primavera, iniciando em setembro de 2021, e II – iniciando em fevereiro de 2022. Os dois experimentos foram quadrado latino 2 x 2, dois tratamentos e dois períodos de 22 dias, sendo 15 de adaptação e 7 de coletas. Os tratamentos foram: Controle (TC): pasto + 6 kg/dia de concentrado; e suplementação com óleo de linhaça (TL): pasto + 6 kg/dia de concertado + 400 g/dia de óleo de linhaça (OL), objetivando 6% de lipídeos na dieta.

No experimento I foram usadas 6 vacas por tratamento das raças Holandês e mestiças Holandês x Jersey, formando um grupo homogêneo para DEL (160 ± 64), peso (548 ± 50 kg), produção (24.6 ± 5.0 L/dia) e OP (2.5 ± 1.0). No experimento II foram usadas 5 vacas por tratamento, homogêneas para DEL (196 ± 49), peso (553 ± 60 kg), produção (21.7 ± 2.4 litros/dia) e OP (2.3 ± 1.4).

As vacas foram ordenhadas duas vezes ao dia. Após cada ordenha, as vacas receberam individualmente a suplementação de acordo com o respectivo tratamento. Posteriormente as vacas tinham livre acesso ao pasto, sendo azevém perene (Lolium multiflorum cv. INIA TITAN®) no experimentoI, e milheto (Pennisetum americanum) no experimento II.

No dia 21 de cada período experimental foram coletadas amostras compostas de leite da manhã e tarde, utilizadas para análise de perfil de ácidos graxos.

Os dados foram submetidos a ANOVA com medidas repetidas no tempo, utilizando o procedimento MIXED do software estatístico SAS®. Os dados foram previamente testados quanto à normalidade dos resíduos, utilizando o teste de Kolmogorov-Smirnov. As diferenças estatísticas foram definidas ao nível de 5%. O modelo estatístico incluiu os efeitos fixos dos tratamentos (TC e TL), dos experimentos (primavera e verão), dos períodos entre os experimentos (1 e 2), das interações entre as variáveis e do erro experimental.

 

Resultados e discussões: Houve interação entre tratamento e experimento para C16:0, C18:2 t10, c12 e C18:3 n3 (Tabela 1). O ômega-3 do leite (C18:3 n-3) aumentou 53% com a suplementação de OL em comparação com TC. Os AG da síntese de novo (C10:0, C12:0, C14:0 - C16:0) foram maiores para TC do que para TL, o mesmo para C16:1, C17:0 e C17:1. Os AGs de cadeia longa C18:1 n7 t11, C18:1 n9, C18:2 n6 c9, t12, CLA C18:2 c9, t11, CLA C18:2 t10, c12 e C22:0 foram maiores em vacas suplementados com OL, enquanto C20:3 n6 e C20:4 n6 foram maiores para TC.

 

Tabela 1. Médias dos mínimos quadrados e valores de P para o teor de ácidos graxos do leite na análise conjunta, experimento I (primavera) e II (verão).

Variaves1

Análise conjunta

Exp. I

Exp. II

Valor de P

TC2

TL3

TC

TL

TC

TL

Treat

Exp.

Trat*exp

C4:0

0,983

1,068

0,950

1,047

1,016

1,090

0,198

0,469

0,86

C6:0

0,906

0,908

0,977

0,996

0,835

0,821

0,966

0,013

0,74

C8:0

0,654

0,614

0,712

0,693

0,597

0,535

0,117

<0,001

0,49

C10:0

1,938

1,697

2,194

2,072

1,681

1,321

0,005

<0,001

0,23

C12:0

3,006

2,549

3,457

3,266

2,556

1,831

0,004

<0,001

0,15

C13:0

0,083

0,082

0,104

0,100

0,062

0,063

0,878

<0,001

0,64

C14:0

12,947

11,638

14,001

13,435

11,892

9,841

0,001

<0,001

0,10

C14:1

0,833

0,698

0,814

0,659

0,851

0,737

0,056

0,507

0,77

C15:0

1,435

1,273

1,532

1,294

1,338

1,252

<0,001

0,082

0,10

C16:0

31,693

27,393

32,853

29,582

30,532

25,203

<0,001

0,002

0,01

C16:1 n7

2,004

1,699

1,754

1,552

2,253

1,845

<0,001

<0,001

0,08

C17:0

0,788

0,651

0,745

0,627

0,832

0,676

<0,001

0,001

0,25

C17:1

0,240

0,197

0,289

0,241

0,191

0,152

<0,001

<0,001

0,62

C18:1 n7 t11

2,082

3,739

2,670

4,039

1,494

3,438

0,002

0,082

0,55

C18:1 n9

20,013

23,794

17,277

19,399

24,549

28,189

<0,001

<0,001

0,26

C18:2 n6

0,909

1,002

0,816

0,914

1,002

1,091

0,122

0,008

0,93

C18:2 n6 c9, t12

0,095

0,163

0,090

0,137

0,101

0,188

0,023

0,133

0,33

C18:2 c9, t11 CLA

0,612

0,870

0,538

0,711

0,686

1,029

<0,001

<0,001

0,12

C18:2 t10, c12 CLA

0,031

0,048

0,038

0,032

0,024

0,063

0,048

0,410

0,02

C18:3 n3

0,383

0,589

0,431

0,726

0,335

0,451

<0,001

<0,000

0,03

C20:0

0,115

0,101

0,090

0,079

0,140

0,124

0,354

<0,001

0,69

C20:3 n6

0,022

0,014

0,032

0,025

0,011

0,003

0,001

<0,001

0,81

C20:4 n6

0,030

0,020

0,038

0,030

0,023

0,011

0,001

<0,001

0,38

C22:0

0,021

0,024

0,005

0,010

0,036

0,039

0,053

<0,001

0,72

1c = cis; t = trans; 2tratamento controle; 3tratamento óleo de linhaça.



O aumento de ômega-3 (C18:3 n3) no leite de vacas suplementadas com OL deve-se à maior quantidade de ácido α-linolênico fornecida na dieta (LOOR et al. 2005). A suplementação com óleos insaturados induz uma redução na síntese de novo e o aumento de AG C18 no leite, pela redução na produção de ácidos graxos voláteis (AGV) no rúmen por bactérias, principalmente acetato e butirato, precursores da síntese de novo na glândula mamária (MAPATO et al. 2010). A diminuição de C10:0 - C17:1 pode ser devida ao papel inibidor de vários isômeros trans C18 produzidos no rúmen na síntese de novo de AG (GLASSER et al. 2008). Houve também um aumento na porcentagem de C18 em relação os AGs de cadeia curta e média, como resultado da maior absorção e secreção de AGs derivados da dieta ou do rúmen (GLASSER et al. 2008). O aumento de C18:3 n3, CLAs C18:2 c9, t11 e C18:2 t10, c12 no leite, em detrimento a suplementação com OL, possuem implicações alimentares funcionais, como propriedades anticarcinogênicas e outros benefícios potenciais à saúde (BAUMAN et al. 2008).

 

Conclusão: A suplementação de 400 g/dia de OL em uma dieta à base de forragem de vacas leiteiras modula o perfil de AG do leite, melhorando as características nutricionais com potenciais benefícios à saúde, como o AG ômega-3 (C18:3 n3) e os CLAs C18: 2 c9, t11 e C18:2 t10, c12.



Palavras-chave


Síntese de novo, suplementação lipídica, ômega-3

Referências


BAUMAN D.E.; PERFIELD J.W.; HARVATINE K.J.; BAUMGARD L.H. Regulation of fat synthesis by conjugated linoleic acid: Lactation and the ruminant model. Journal of Nutrition 138:403–409. 2008. https://doi.org/10.1093/jn/138.2.403

 

GLASSER F.; FERLAY A.; CHILLIARD Y. Oilseed lipid supplements and fatty acid composition of cow milk: A meta-analysis. Journal of Dairy Science 91:4687–4703. 2008. https://doi.org/10.3168/jds.2008-0987

 

LOOR J.J.; FERLAY A.; OLLIER A.; DOREAU M.; CHILLIARD Y. Relationship among trans and conjugated fatty acids and bovine milk fat yield due to dietary concentrate and linseed oil. Journal of Dairy Science 88:726–740. 2005. https://doi.org/10.3168/jds.S0022-0302(05)72736-3

 

MAPATO C.; WANAPAT M.; CHERDTHONG A. Effects of urea treatment of straw and dietary level of vegetable oil on lactating dairy cows. Tropical Animal Health and Production 42:1635–1642. 2010.https://doi.org/10.1007/s11250-010-9613-3

 

PETIT H.V. Review: Feed intake, milk production and milk composition of dairy cows fed flaxseed.  Canadian Journal of Animal Science. p 115-127. 2010

 

PALMQUIST D.L.; JENKINS T.C. A 100-Year Review: Fat feeding of dairy cows. Journal of Dairy Science 100:10061–10077. 2017. https://doi.org/10.3168/jds.2017-12924


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