Sistema Eletrônico de Administração de Conferências, 1º SIMPÓSIO CATARINENSE DE PECUÁRIA DE LEITE A BASE DE PASTO

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COMPOSIÇÃO E QUALIDADE DO LEITE RELACIONADAS ÀS CONDIÇÕES DA SALA DE ORDENHA E AS ESTAÇÕES DO ANO - ANÁLISE MULTIVARIADA
Laura Marquetto, Ana Paula Amaral Almeida, Marcos Busanello, Gabriela Elena Scheineider, Bruna Rohte Schneider, Luiza Becker, Ione Maria Pereira Haygert Velho, João Pedro Velho

Última alteração: 2023-10-24

Resumo


Contribuição para a sociedade: O objetivo deste estudo foi avaliar a composição e a qualidade do leite através da análise multivariada, em relação às estações do ano e diferentes instalações de sala de ordenha. O banco de dados (BD) compreende janeiro de 2009 a dezembro de 2016 e foi cedido por uma propriedade leiteira localizada em Palmeira das Missões – RS. Como resultados, tem se que a produção e a composição do leite são variáveis ao passar dos anos. Portanto, melhorias nas instalações e no manejo de ordenha tem impacto positivo na qualidade e na composição do leite, possibilitando ao produtor receber bonificação financeira e ao consumidor usufruir de um produto confiável.

 

Palavras-chave: Instalações, Sazonalidade, Lácteo, Análise Fatorial.

 

Introdução: A qualidade do leite é importante para a saúde pública e para a indústria de lácteos. Nesse sentido é fundamental analisar sua composição e realizar avaliações de qualidade, pois as mesmas são influenciadas por diversos fatores, dentre eles, as condições da sala de ordenha e as estações do ano. Sendo assim, é imprescindível utilizar modelos apropriados como análise multifatorial (Alessio et al., 2016; Mele et al., 2016). A análise fatorial da composição e da qualidade do leite estão interligadas com os dois aspectos supracitados, destacando como as variações sazonais e o manejo de ordenha podem influenciar no produto final. Com isso, objetivou-se avaliar aspectos químicos e microbiológicos do leite por meio de análise multivariada, em relação às estações do ano e diferentes instalações da sala de ordenha com dados de oito anos de uma propriedade rural do município de Palmeira das Missões, Rio Grande do Sul, Brasil.

 

Material e métodos: O (BD) apresentou a composição e avaliação da qualidade do leite de uma propriedade em Palmeira das Missões, ao Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul. Os mesmos foram coletados entre janeiro/2009 e dezembro/2016, onde a média do rebanho era 12 vacas Holandês e Jersey. As amostras eram retiradas do tanque de expansão três vezes ao mês e após enviadas ao Serviço de Análise de Rebanhos Leiteiros da Universidade de Passo Fundo. Ao longo dos anos, houve uma evolução nas instalações e no tipo de ordenhadeira, classificando-a como: 1 (chão batido, ordenha manual, janeiro/2009-maio/2010), 2 (piso, ordenha manual, junho/2010-maio/2012), 3 (piso, ordenhadeira balde ao pé, junho/2012-dezembro/2013) e 4 (sala de ordenha com fosso, formato espinha de peixe, ordenhadeira canalizada, janeiro/2014-dezembro/2016). A ordenha era feita duas vezes ao dia e a alimentação das vacas era à pasto. Na análise estatística as variáveis consideradas foram: teores de gordura, proteína e lactose, extrato seco desengordurado (ESD), extrato seco total (EST), contagem de células somáticas (CCS), contagem bacteriana total (CBT), estações do ano, instalações e tipo de ordenhadeira. As estações do ano foram classificadas como: 1: Verão (dezembro a fevereiro), 2: Outono (março a maio), 3: Inverno (junho a agosto) e 4: Primavera (setembro a novembro). Os dados de CCS foram transformados para escore de células somáticas (ECS), segundo a fórmula ECS= log2(CCS/100) + 3 (Ali and Shook, 1980) e os valores de CBT foram transformados em log10, para obter a normalidade destas variáveis. Os dados foram analisados por meio de técnicas de análise multivariada (análise de fatores e de agrupamento), utilizando-se o software estatístico SAS® (SAS Institute, 2002). A partir disso, os quatro grupos de observações formados, foram comparados por meio do teste de Kruskal-Wallis, pois as variáveis não apresentavam distribuição normal. A mediana foi utilizada como medida de tendência central. O nível de significância considerado foi de 5%.

 

Resultados e discussões: O fator 1 demonstra a relação positiva do teor de proteína e lactose do leite, ESD e EST com as estações do ano, onde o leite produzido no inverno e primavera apresentou melhor composição (Tabela 1). Freitas et al. (2001) em Minas Gerais, Noro et al. (2006) no Rio Grande do Sul e Barbosa et al. (2007) no Paraná, observaram efeito significativo das estações na produção e na composição química do leite. O fator 2 apresentou relação negativa entre instalação, ordenha e teor de lactose com CBT e CCS, onde instalações de ordenha manual tiveram valores maiores de CBT e CCS e menores teores de lactose no leite. Picolli et al. (2014) observaram que as instalações de ordenha estão relacionadas ao processo de higiene e limpeza, influenciando na contagem de microrganismos no leite. E o fator 3 apresentou relação positiva entre gordura e EST do leite. As elevadas comunalidades para todas as variáveis demonstram a importância destas para o estudo das relações entre as instalações de ordenha e estações do ano com a composição e da avaliação sanitária do leite.

Tabela 1. Fatores e cargas fatoriais, autovalor, percentual de variância e comunalidade de cada variável que compõe a análise fatorial.

Variáveis

Fatores

Comunalidade

1

2

3

Extrato seco desengordurado (%)

0.857

-0.168

0.180

0.916

Estações do ano

0.784

0.220

-0.010

0.544

Proteína (%)

0.643

0.252

0.578

0.825

Lactose (%)

0.615

-0.358

-0.426

0.822

Log10 CBT1

0.065

0.916

-0.088

0.787

ECS1

-0.263

0.647

0.330

0.753

Instalações e ordenha

-0.224

-0.914

0.240

0.731

Gordura (%)

-0.050

-0.112

0.928

0.831

Extrato seco total (%)

0.575

-0.187

0.679

0.947

Autovalores (%)

39.2

26.8

13.5

 

1CBT = contagem bacteriana total e CCS = contagem de células somáticas (ambas ×10³ céls/mL)

O leite do grupo 1 apresentou teores altos de lactose, intermediários de gordura, proteína, EST e ESD, e baixos de CCS e CBT. O 2 apresentou altos teores de gordura, proteína, lactose, ESD e EST, com valores intermediários de CCS e CBT. O grupo 3, do leite produzido no outono, em sala de ordenha de chão batido com ordenha manual, apresentou teores intermediários de gordura e proteína, teores baixos para lactose, ESD e EST, além de valores altos para CCS e CBT. Já o grupo 4 do leite produzido no verão, em sala de ordenha com piso de concreto e ordenhadeira balde ao pé, apresentou baixos teores de gordura, proteína, ESD e EST, com valores intermediários de lactose, CCS e CBT (Tabela 2). A maioria dos resultados estão de acordo com a Instrução Normativa n° 76 e 77, com valores mínimos para lactose, gordura, proteína, EST, ESD, CCS e CBT, respectivamente, 4,3g/100g, 3,0g/100g, 2,9g/100g, 11,4g/100g, 8,4 g/100g, 500.000 CS/mL e 300.000 UFC/mL, segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA).

Tabela 2. Medianas para as variáveis de composição, microbiologia do leite, condições da sala de ordenha e estações do ano para os grupos formados na análise de agrupamento.

Variáveis

Grupos

Valor- P5

1

2

3

4

Estações do ano1

3,00a

3,00a

2,00b

1,00c

<0.0001

Instalação e ordenha2

4,00a

3,00b

1,00c

3,00b

<0.0001

Gordura (%)

3,57b

3,78a

3,50b

3,36c

<0.0001

Proteína (%)

3,05b

3,34a

3,03b

2,86c

<0.0001

Lactose (%)

4,41a

4,40a

4,11c

4,28b

<0.0001

Extrato seco desengordurado (%)

8,41b

8,73a

7,99c

8,07c

<0.0001

Extrato seco total (%)

11,98b

12,50a

11,55c

11,44c

<0.0001

CCS x 1000 cells/mL3

215,00c

384,00b

1.000,00a

245,00bc

<0.0001

CBT x 1000 ufc/mL4

15,00c

28,00b

397,000a

20,00bc

<0.0001

Número de observações

106

33

57

74

 

Conclusão: A produção e composição do leite variam ao longo dos anos em sistema a pasto, principalmente em função das estações. Melhorar as instalações e manejos de ordenha possibilita um impacto positivo na qualidade e composição do leite como um todo.


Palavras-chave


Instalações, Sazonalidade, Lácteo, Análise Fatorial.

Referências


ALESSIO, D.R.M., THALER NETO, A., VELHO, J.P., PEREIRA, I.B., MIQUELLUTI, D.J., KNOB, D.A. and SILVA, C.G. Multivariate analysis of lactose content in milk of Holstein and Jersey cows. Semina Ciências Agrárias 37, pp. 2641-2652, 2016.

ALI, A.K.A. and SHOOK, G.E. An optimum transformation for somatic cell concentration in milk. Journal of Dairy Science 63, pp. 487-490, 1980.

BARBOSA, O.R.; BOZA, P.R.; SANTOS G.T. et al. Efeitos da sombra e da aspersão de água na produção de leite de vacas da raça Holandesa durante o verão. Acta Scientiarum. Animal Sciences, v.26, n.1, p.115-122, 2004.

FREITAS, M.S., DURAES, M.C., FREITAS, A.F. et al. Comparação da produção de leite e de gordura e da duração da lactação entre cinco "graus de sangue" originados de cruzamentos entre Holandês e Gir em Minas Gerais. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia. v.53, n.6, p.708-713, 2001.

MELE, M., MACCIOTTA, N.P.P., CECCHINATO, A., CONTE, G., SCHIAVON, S., and BITTANTE, G. Multivariate factor analysis of detailed milk fatty acid profile: Effects of dairy system, feeding, herd, parity, and stage of lactation. Journal of Dairy Science 99, pp. 9820–9833, 2016.

MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO. Instrução Normativa Mapa nº 76 e 77, 2018, Brasil.

NORO, G.; GOZÁLEZ, F.H.D.; CAMPOS, R. et al. Fatores ambientais que afetam a produção e a composição do leite em rebanhos assistidos por cooperativas no Rio Grande do Sul. Revista Brasileira de Zootecnia, v.35, n.3, p.1129-1135, 2006.

PICOLLI, T.; ZANI, J.L.; BANDEIRA, F.S. et al. Manejo de ordenha como fator de risco na ocorrência de microorganismos em leite cru. Semina. v.35, p.2471-2480, 2014.


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